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No início de 2020, começamos a produzir um artigo para postar aqui, no blog do LIV, sobre o uso de tecnologia na educação. Era fevereiro ainda e não sabíamos, à época, que o uso de tecnologias digitais seria tão intenso no decorrer daquele ano letivo, mudando para sempre a maneira como vemos o uso de computadores e celulares para o aprendizado.
Demoramos a retomar o tema, afinal, como refletir claramente sobre o excesso de telas quando elas se tornaram o principal recurso para que crianças e adolescentes pudessem acessar a escola? Contudo, essa realidade também se delineia para 2021 com o modelo de ensino híbrido e percebemos, mais uma vez, que o mergulho no digital será ainda mais inevitável. Portanto, refletir sobre isso já não é uma questão de “tendência”, mas sim uma necessidade.
Novos hábitos, novas questões
Atualmente, nossa relação com o celular é tão próxima que já se pode dizer que sofremos de uma síndrome de hiperconexão: verificamos as mensagens o tempo todo, levamos o aparelho para todo canto e até dormimos com ele próximo a nós. Não somente o celular, mas todos os diversos dispositivos digitais que estamos habituados a usar. Nosso contexto às vezes parece tão virtual, que não nos permite manter o foco por muito tempo.
E não estamos falando apenas de adultos: está cada vez mais precoce o acesso de crianças aos smartphones e computadores. Até alguns anos atrás, discutia-se qual seria a idade ideal para se ter acesso a um aparelho ou uma página em redes sociais.
Mas como falar sobre isso quando a tecnologia foi necessária para que milhares de crianças e adolescentes acompanhassem as atividades escolares e interagir com suas famílias e amigos durante a pandemia? O fato é que ela faz parte do nosso tempo e não temos como evitá-la, seja no uso recreativo ou educacional.
Acreditamos que o mais significativo neste momento é entender melhor essa necessidade e perceber os excessos onde eles existem, pois o efeito da tecnologia em nossas relações e aprendizados não pode ser visto simplesmente como “positivo” ou como “negativo”. Há nessa questão nuances muito mais profundas e que exigem olhar crítico e inteligência emocional da parte de todos.
Tecnologia na educação: pensando fora da gaiola
Para Guilherme Cintra, da Eleva Educação, ao fazermos uma reflexão dessa questão no contexto educacional, também é preciso ter em mente que “a tecnologia é algo que potencializa nossa essência”:
“Se somos pessoas que querem colocar os alunos sob uma determinada ordem ou sob mecanismos de controle, a tecnologia vai nos empoderar para fazer isso melhor. Da mesma forma, se quisermos dar asas para esse aluno, podemos nos apropriar e participar da tecnologia, transformando os processos a partir de princípios que possam fazer com que a gente dê asas para esses alunos evoluírem em um mundo cada vez mais complexo”.
Ele destaca também que, dentro do contexto educacional, há princípios que precisam ser observados ao se trabalhar com a tecnologia:
“São princípios que fazem com que sejamos mais humanos, entendendo os alunos como indivíduos e desenvolvendo neles a capacidade de aprendizado por si, de evolução contínua e pessoal. Eles incluem uma tecnologia centrada no usuário, alinhada com o que recomendam os especialistas, que permita melhorar o foco no aluno”, pondera.
Conexão e conectividade: um olhar da educação socioemocional
Quando levamos esse questionamento para o contexto da educação socioemocional, abrimos um caminho para falar mais profundamente sobre dois temas: conexão e conectividade.
Nos dias atuais, estamos tão focados em nossos aparelhos que pensar nesses dois termos pode acabar remetendo automaticamente à conexão digital. Mas será que o significado é apenas esse?
No dicionário, os termos trazem muitas definições, mas para falar sob o olhar da educação socioemocional queremos focar na definição de conexão e conectividade como: “ato ou efeito de conectar, de ligar ou de unir; ligação, união; aquilo que conecta, liga ou une”.
Afinal, o que conecta ideias, pessoas, escolas, famílias, trabalhos, etc.? Entender como entramos em contato conosco, com os outros e com o mundo é fundamental para realizar escolhas conscientes e desenvolver autonomia com responsabilidade.
Sem esquecer também de que, com a ascensão das tecnologias, a humanidade foi convocada a criar e recriar suas formas de se relacionar e estar no mundo. Seja com a chegada do fogo, da linguagem, da roda ou da internet, nossas demandas, maneiras de se comunicar, locomover, viver e conviver no mundo foram transformadas.
Nesse cenário, as escolas não podem se abster de responder a essa transformação nem de abordar os aspectos sociais e emocionais envolvidos nela. Por isso, nas aulas do programa LIV, os estudantes podem participar de dinâmicas e debates nas quais são chamados a refletir sobre suas próprias conexões, em abordagens que correspondem à sua faixa etária.
Um exemplo é o currículo socioemocional de LIV para o 9º ano do Ensino Fundamental, etapa que abrange alunos na faixa etária dos 14 e 15 anos. Para além da problematização das questões citadas acima, os estudantes são convidados a desenvolver e apresentar um grande projeto colaborativo que aprofunda e conscientiza sobre algum assunto relacionado à conexão e à conectividade, tanto nas relações presenciais quanto virtuais.
Para ampliar essa abordagem, o conteúdo também é levado para as famílias por meio de jogos e material de leitura para os responsáveis, além de séries, rodas de conversa e outros recursos que ajudam a falar sobre o tema durante as aulas. Mais do que encontrar definições para os termos, o currículo do programa socioemocional do LIV visa estimular o olhar crítico do aluno para a maneira como ele se comunica e se relaciona, seja no ambiente virtual ou presencial.
Novos cenários de aprendizagem
Para auxiliar as escolas a responder às novas demandas de ensino e aprendizagem, o LIV tem pensado sua proposta para aulas on-line, adaptando as atividades necessárias para responder ao contexto das escolas. Em 2020, por exemplo, em um trabalho de parceria próxima com as instituições, foi possível criar o LIV em Casa, que ofereceu materiais exclusivos do programa para uso no ensino remoto.
Para 2021, com a perspectiva de um cenário que intercale aulas virtuais e presenciais, todo o conteúdo do programa será adaptado para responder a propostas de ensino híbrido. Além disso, os professores poderão participar de um novo percurso de formação pedagógica, que irá auxiliá-los a aprofundar seu conhecimento na educação socioemocional e entender como levá-la para seus alunos no contexto atual.